Pulmones de Metal
em Cerro Rico
nas entranhas da terra
em total escuridão
a população
de vidas calejadas
cava seu próprio destino
escorrem veias de zinco
e o cobre dá cor ao desespero
tiram sangue de rochas
das pedras e mãos
dos artistas cegos
que esculpem até as vísceras
nos buracos
mais profundos
queimam marcas pelas paredes
marcas de fé
eles se denominam
Pulmones de Metal
o mais velho tem 42
quarenta e dois
anos
o mais experiente
o sobrevivente
da exploração
o mais novo não fala
racha rocha na
busca de brilho
com um martelo
maior que sua cabeça
no íntimo do ventre materno
um imponente Theo
figura com seus cornos
e um enorme pinto
maior que jesus
ali noutro canto
Ele proverá riquezas
o álcool, puro
proverá coragem
a misericordiosa coca
proverá força
17 níveis de exploração
464 anos de exploração
exploração exploração
exploração exploração
exploração exploração
a folha amarga
na saliva
seca
vira suor, sangue
correntes
explosões
na escuridão
na boca
só um dente
.............d’ouro
tamanha pobreza
...............d’alma
a coca continua sendo
o principal alimento
nas bocas vazias
ruminante
Mariana, Brumadinho e Pompeia
-
Em meu segundo livro, Elefante, publicado em 2013, escrevi uma série de
poemas, todos girando em torno do mesmo tema: a possibilidade do homem
permanecer ...
5 years ago
4 comments:
eu já tinha lido este, será?
me pareceu familiar, mas gosto mto...
mto bom ler poesia desvinculada da pessoalidade, de vez em qdo. Não que a pessoalidade seja ruim, mas é que todo mundo gosta de variar o tempero né!
aliás, ontem mesmo pensei no senhor e como nunca mais te esbarrei pelos corredores...
=)
já foi postado no maná e decidi trazer pra cá também.
pode ter certeza que a gente vai se trombar ahhahahaha o nosso mundo é pequeno pequeno!
Costumam dizer que faço poesia em forma de prosa. Arriscaria dizer que fizeste uma prosa em forma de poesia. Mas pra que as definições, não é mesmo?
Uma denúncia poética.
Post a Comment