Thursday, June 18, 2009

O pescador

Talvez seja a cidade, talvez a sociedade, ou quem sabe o momento. Eu poderia justificar, construir argumentos, engrenar na tarefa de fazer-se crer. No entanto, gosto de pescar. É uma atividade que não dá dinheiro, nem é social. Faço pelo prazer mesmo, de ver o tempo passar. Nunca tirei um lambari da água, talvez seja a isca, talvez o anzol, ou quem sabe o local. Toda via sou jovem e tenho muito tempo para pescar meu primeiro peixe.
Quando não estou pescando, sou colher, das de sobremesa, que fazem a sopa esfriar. Minha utilidade para os homens é evidente: servir, mesmo que pouco, bocas alheias. Outro dia conversei com o martelo, dizia ele que tinha dores de cabeça de tanto socar os pregos pelas paredes, mas que estava trabalhando duro e logo seria indicado para outra posição: poderia retirar os pregos, um a um, e despachá-los. Utilidades de martelo. Ele é muito respeitado entre as ferramentas, é sempre útil e tem seu lugar guardado no caixote. Os pregos, coitados, têm seu momento.
Nessa mesma conversa ele me contou que já havia pescado um pacu, desses gordos que quebram a varinha de madeira, e disse também que não era muito chegado nesse negócio de pesca, pois não gostava de passar tanto tempo esperando pelo resultado.
Acho que já nasci assim, meio velho, contemplador, sem essa pressa de ver acontecer. Pra mim, o peixe é o de menos, gosto mesmo é do tempo, de ver passar, com seus suspiros, momentos que só nós temos.