Wednesday, October 29, 2008

Reflexão.

             Que inferno, esse espelho. Não posso ser eu mesmo na frente dele, ele me modifica, me desconstrói, me envergonha. Por vezes sinto o coração acelerar e junto a respiração. É excitante. Quando quero parar e não posso, é sufocante. Sou eu, apenas eu, ali refletido. Como posso temer tanto a mim mesmo? Como posso envergonhar-me assim diante de mim? No auge de minha subversão fito seriamente esse corpo nu, busco no fundo dos olhos negros algo; e em poucos minutos me entorpeço estranhamente. Hipnótico. Tudo se distorce, me deixo ali, abandonado de meus pensamentos. Nesse estranho momento não sou. Nesse estranho momento, estou. Reconheço o corpo ali parado, mas desconheço algo, algo que me controla os arrepios e deixa a desejar. Desejo. Eu te desejo. 

            - Eu? Eu quem?

            - Eu, você.

            - Eu? A quem?

            - A você.

            E continuo a fitar hipnótico, procurando ainda no fundo dos olhos gigantescos o autor. Perdido penso em parar a conversa. Não posso. Eu quero mais.

            - Mais quem?

            - Eu, todos eles.

Saturday, October 25, 2008

Batom de Jazzmin

Escuto suave,
Pela primeira vez
.................................jazz.
ao
......vi
............vo

Em metais de marcha
No passo da guerra,
Uma notamental sentisuave.

Um beijo só
......................................pra
................................nota

De marcai sem éche
Da pazza no guezzo,
Uma notasuave sentimental.

Uma no ta Dó.
Uma no tá Só.

...........................Sol à Solo
................................Sola Solo

na su a ve no ta men tal
do si em mi la gre tal
su zzu zza do
....................C àche

quisá sol fosse lá
..............................si
..........................zi
.....................zzi
..............zzzi
..........
quisá
................quisá.

Monday, October 06, 2008

Escutou com calma o que ela tinha a dizer, não sabia o que pensar e tão pouco gostaria pensar algo. Era como um padre em seu impessoal confessionário, fitava com firmeza seu soluço e temia não se conter, temia deixar lavar-se pelas lagrimas daquele passado. Ao que discorria suas momentâneas verdades ele se recordava das momentâneas mentiras e lamentava o sentimento que por si só aflorava em silencio, apesar de negar o podia prever. Eram mundos imundos de passados que não passaram, os quais retidos nas retinas denunciavam a dor, a mesma dor que os fazia se fitar com tanto afeto. Estavam sentados na sua cama de solteiro, num quarto bem diferente daquele que havia consentido tantas horas a fio de secretos amores incondicionais. Mas a condição havia mudado. O quarto havia sido limpado e a chuva já não era tão nostálgica como fora as lagrimas. Fitava com olhar perdido os raios de sol que atravessavam as fendas da janela, eles se cruzavam e formavam um desenho diferente no teto do quarto, com variações infinitas de combinações luminosas. Sorriu no fundo da alma e deixou transparecer no canto da boca. Ela parou de falar e o olhou com severidade, queria descobrir o que pensava naquele exato momento, naquele exato olhar, naquele exato sorriso. Era um olhar invasivo e desesperado, possessivo por instinto. Logo ele se voltou a ela e percebeu que ela não tinha notado a mudança no quarto, muito menos as luzes que cruzavam a janela como num caleidoscópio. Eles se fizeram silenciar. Alguns suspiros depois disse: “Foi um prazer...”