Thursday, December 10, 2009

Queridos! Depois que quase um ano de espera pelo lançamento do livreto EIXADA, finalmente conseguimos juntar as moedas que faltavam para colocar a parada na rua. São 18 autores colaborando nessa feijoada multi sabor!
É com muita, muita, muita alegria que temos nosso primeiro de muitos lançamentos que ocorrerão pelo Brasil a fora.

Sigam o caminho de tijolos amarelos!



COMPAREÇAM

Wednesday, November 25, 2009

Pulmones de Metal


em Cerro Rico
nas entranhas da terra
em total escuridão
a população
de vidas calejadas
cava seu próprio destino

escorrem veias de zinco
e o cobre dá cor ao desespero
tiram sangue de rochas
das pedras e mãos
dos artistas cegos
que esculpem até as vísceras
nos buracos
mais profundos

queimam marcas pelas paredes
marcas de fé

eles se denominam
Pulmones de Metal

o mais velho tem 42
quarenta e dois
anos
o mais experiente
o sobrevivente
da exploração

o mais novo não fala
racha rocha na
busca de brilho
com um martelo
maior que sua cabeça

no íntimo do ventre materno
um imponente Theo
figura com seus cornos
e um enorme pinto
maior que jesus
ali noutro canto

Ele proverá riquezas

o álcool, puro
proverá coragem

a misericordiosa coca
proverá força

17 níveis de exploração
464 anos de exploração
exploração exploração
exploração exploração
exploração exploração

a folha amarga
na saliva
seca
vira suor, sangue
correntes
explosões
na escuridão

na boca
só um dente
.............d’ouro
tamanha pobreza
...............d’alma

a coca continua sendo
o principal alimento
nas bocas vazias
ruminante

Wednesday, November 18, 2009

Um dia encontrei uma lagarta verde no meu prato de comida, e imaginei tudo que ela passou para chegar até ali.




Esse era um sinal de perseverança.

Friday, October 02, 2009

mundos

de todas as tentativas
de relegar a vida
em tragadas, engolidas
de certo, arriscadas
que me tornaram decrépito
em aborrecido sono

tentei de tudo
de tudo mesmo
para chegar lá
do lado de lá
n’outro lado

perniciosos ritos de passagem
de hoje para hoje mesmo
e amanha que nunca chega
e quando chega deixa
tudo pra trás

                                como num jorro
                                num orgasmo
                                em triste júbilo
                                desfalecido

ao acordar no mesmo dia
no mesmo lugar
sob o mesmo sol
em comiseração
pela minha
falta

pelas ganas de transpor
a compleição da tez
e ressurgir
ou findar

completamente

             mas
             não
         nunca fui
         não ainda
             não
             não
             não

Tuesday, September 01, 2009

Eu sei que não
Vai ser assim
Tão rápido

A mensagem vai viajar
Até as estrelas,
Para chegar até você

Enquanto na minha cadeira
Bebo uma taça.

Revejo o que mandei
Te imagino sorrir,
Imagino um milhão
De fogos explodir

As musicas se vão
Uma atrás da outra
Contando estórias
De sonhos estelares

Enquanto na minha cadeira
Bebo um vinho.

Seus minutos de prazer
São mundos em implosão
Um por segundo
Todos em silêncio.

A hora é traiçoeira
Ri, provoca e conta
Os goles sedentos

Enquanto na minha cadeira
Bebo sozinho.

Wednesday, August 26, 2009

nem ligo

nesse frio não dá
nem tem como sair

pra gozar
só com orgia
em local fechado

a idéia é comer
pimenta
e tomar cachaça

só pra passar o tédio

é claro que farei sozinho,
quem mais vai jogar xadrez
numa sexta?

é possível que nem te veja hoje
como combinamos,
mas é que não gosto
das suas amigas
nem de frio

também não ligarei para avisar
que ficarei jogando,
comendo, bebendo,
pensando, lamentando.

Friday, August 21, 2009

encontro de terça

476 quilômetros pra cima
e ninguém sabe meu nome
e nem nunca viu meu rosto

eu ando pela rua
faço cara de quem sabe
exatamente
para onde está indo

um velho bêbado me para
resmunga esboços
entre sorrisos
e soluços

são 8:13 da manha
eu estou de ressaca,
só quero uma cama.

o velho continua na luta
para se manter sobre os pés
e eu virei apoio

ainda não entendo uma palavra que diz

entre uma dor e outra
respondo

eu pago.

Friday, August 07, 2009

o que sinto

é o copo vazio
as contas em cima da mesa
o ralo de boca aberta
esperando a água cair

muitas garrafas limpas
nem mais uma gota
mas isso não terminou

todas as baterias se apagaram
ainda bem que não tocam

eu posso ver
mesmo de olho fechado
eu posso sentir
mesmo anestesiado

sei que não vão terminar
nem agora, nem nunca

foi o vento que me contou
que na presença de todas as cores
ou mesmo em luz amarelada
permanecem sonhos
visíveis, audíveis

mesmo no silencio mortal que vivo
existem notas graves

e tudo vem de dentro

e tudo morre ali mesmo
naquele momento.

mas não termina
nunca termina
há o gato agonizando na janela

há um pinto murcho
que acorda sozinho
e cisca coisinhas

tudo permanece como está

o vazo segue com a colher plantada
que não deu coisa nenhuma
(não imaginei que fosse dar)

alguém morreu
em silencio

mas não acabou.

Wednesday, July 29, 2009

árvores de prata

a poeira na estrada
descansa em cor dourada
os braços retorcidos
contam os anos de pedra

há muito nessa terra

o fumo de corda ainda é
tempo e descanso
fumaça, só fumaça

acima das cores do sertão
plantaram seres estranhos

árvores de prata
e um mar de ondas de luz

cadáveres gigantes
atravessam o destino
de toda uma nação

tanta confusão
chega serpenteando
nos fios em ondas

medo e ganância

se conduz
nas redes,

redes de luz.

Friday, July 24, 2009

Desatino em movimento

Logo que entrei no carro e liguei o rádio constatei que iria chover durante todo o final de semana, como se não fosse suficiente, seriam os dias mais frios do ano. Eu já havia conversado com a minha mãe sobre o final de semana e não podia voltar atrás, tinha de ir visitá-la de qualquer forma. Durante o percurso, ainda dentro da cidade, sintonizei a radio em AM, costume que herdei do velho, a fim de saber sobre o clima que faria no interior do estado. Mesmo antes de sair da cidade já começavam a falar sobre as torpezas econômicas do país, e busquei por um CD que pudesse acompanhar essa viagem solitária. Stan Getz, The Bossa Nova Years. Ideal para um momento de reflexão.

É, esse CD é muito bom mesmo, já começa com desafinado, que fiz questão de cantar fazendo jus a letra. Que momento. Olhando no retrovisor ainda podia ver as luzes altas, o mar de estrelas douradas. O sax é hipnótico. O violão transcendental. Bem que gostaria de acompanhar esse afino musical, os altos e baixos e viradas... Sou só contemplação.

Quando chegar a Rio Claro tenho que ligar para o Garça e contar sobre o filme que assisti essa semana, Bird, a vida de Charlie Parker. Qual era a frase que me fez chorar? Algo com mártir. Charlie era alcoólatra, viciado, deprimido. Tinha apenas trinta e quatro anos quando conquistou seu destino. Eu tive sorte, creio. Ao contrário de muitos, consegui elevar o sublime em minha vida, ocupei bem meu tempo, deixei o confusionismo de lado, nada de martirização.

O Pato! Essa levada só pode ser brasuca. Dá pra sentir as ondas do mar. Increíííble! É verdade que tenho ficado cada dia mais solitário, e esse gosto pelo sublime não é lá um atributo que os jovens valorizam. Independente disso, acho que é melhor mesmo que fique sozinho, nesse banker anti-superficialismo; não quero me martirizar. Ainda tenho muito a sonhar. Não deve acabar tão cedo.

Acho que ando muito sentimental mesmo, qualquer filminho me faz chorar. Não deve ser mal. Pena que não tenho com quem compartilhar esse sentimento. Mesmo se tivesse, iria compreender? Provavelmente não. É como se estivesse num período de silencio social, vivendo sem escutar direito o que minha época diz, sonhando profundamente com o próximo momento. Aquele que vem com a musica, a poesia, o cinema. As lágrimas. O suspiro. Insensatez! Caramba, essa chuva só faz tudo ficar mais bonito. É aquela tristeza alegre, como quando uma pessoa querida se vai, mas que sabe que foi para melhor. É aquela pureza que não enxergamos com os olhos, e que quando sentimos, é tão impossível de transmitir que nem mesmo a telepatia seria fiel à melodia.

Já devo estar por perto, quantos pedágios passei mesmo? Três? Quatro? Pelo menos essa chuva está parando. O noticiário disse que ia ficar nublado todo final de semana. Que nostalgia. É só chover que eu choro. É realmente uma forte presença divina. Ainda bem que esse CD não tem voz, há uma pureza diferente nas musicas instrumentais. Com certeza as palavras diminuem qualquer sentimento. Até mesmo as mais belas poesias, coitadas, foram compactadas em palavras, códigos, miséria. A natureza é séria quanto a sua poesia, não lhe faltam expressões. Nós humanos, somos tão pobres, tão míopes, já nascemos mortos.

Wednesday, July 15, 2009

Cadáver Esquisito

Esse lugar que me encontro
É apenas uma condição
Onde nem mesmo as palavras ou pensamentos
Podem tomar seu corpo
Pois na simplicidade de se alimentar, tal como deve ser,
Existe a libertação acorrentada pela razão
Que infeliz somos em nosso expressar.
Com quanta apatia se faz um corrupto?
Deixei morrer aqui, no lugar que me encontro
Sem verdades, sem um pingo de emoção
Fui tomado pela miséria
Em formatos e formulas da beleza
Pompas e bromas
Apenas balbucios insossos
Solenes verbetes estranhos
Irrealidades aprisionadas
Inverdades!
Palavras, palavras...
Onde as deixei cair?
Um túmulo aberto de profanações
Odores perfeitamente reais
Desde sempre amarrados
À inconclusões, insatisfações.
Desejos...
Meus pecados, minha prisão

Joguetes de merda
Que arranham minha imaginação por pura prescrição
Arrastam meu ser ao solo
Cavam o buraco que lhes pertence
E me jogo na frente, pois só eu existo
Só eu posso me enterrar
Só eu posso envenenar minha saliva
Canibalizar minha carne
Selar corpo e alma
Em parecer tão imundo
Tão hipócrita, tão não eu.
Mas que veludo gostoso, dizem eles
Mas que belo chapéu.
Me corrompo ao mínimo elogio
À mínima exaltação caridosa.
O que calenta é profano
É desfigurado, é podridão
É merda no ventilador
Em profunda repressão
Teatro empelucado
Morto, vivo, zumbi estranho
Que corre em nosso sangue.

Esse jogo não tem dados
É xadrez sem regras
Música sem partitura
Pura interpretação.

Thursday, June 18, 2009

O pescador

Talvez seja a cidade, talvez a sociedade, ou quem sabe o momento. Eu poderia justificar, construir argumentos, engrenar na tarefa de fazer-se crer. No entanto, gosto de pescar. É uma atividade que não dá dinheiro, nem é social. Faço pelo prazer mesmo, de ver o tempo passar. Nunca tirei um lambari da água, talvez seja a isca, talvez o anzol, ou quem sabe o local. Toda via sou jovem e tenho muito tempo para pescar meu primeiro peixe.
Quando não estou pescando, sou colher, das de sobremesa, que fazem a sopa esfriar. Minha utilidade para os homens é evidente: servir, mesmo que pouco, bocas alheias. Outro dia conversei com o martelo, dizia ele que tinha dores de cabeça de tanto socar os pregos pelas paredes, mas que estava trabalhando duro e logo seria indicado para outra posição: poderia retirar os pregos, um a um, e despachá-los. Utilidades de martelo. Ele é muito respeitado entre as ferramentas, é sempre útil e tem seu lugar guardado no caixote. Os pregos, coitados, têm seu momento.
Nessa mesma conversa ele me contou que já havia pescado um pacu, desses gordos que quebram a varinha de madeira, e disse também que não era muito chegado nesse negócio de pesca, pois não gostava de passar tanto tempo esperando pelo resultado.
Acho que já nasci assim, meio velho, contemplador, sem essa pressa de ver acontecer. Pra mim, o peixe é o de menos, gosto mesmo é do tempo, de ver passar, com seus suspiros, momentos que só nós temos.

Monday, May 25, 2009

Ensaio manifesto

.

Abafado

Sôfrego

Desalento das palavras perdidas

Na ausência de virgulas ou

.....................................aspas

.

Desfaz os laços

Revisa atos

Coloca sal, açúcar, alecrim

.....................não lhe cabe.

.

Pairam nebulosas

Aparentemente doces

Coloradas de carbono

.......................oração

.

Quase apáticos

Meios limão

Separado em

....................parte

.......................inteira

.

Não há remate.

.

Desata em vós

O olhar melindroso

Coisa lírica de pranto

Sunday, May 10, 2009

O inquilino

os olhos alvejam
cobram o trocado do dia,
presságios de morte

perguntas sóbrias em ácidas
...........................................reticências

............................Lucidez gasosa,
corruptível imaginário

o passo desmedido
.......................da voz
na hesitação de não perguntar

na profundeza do canto
delinqüente das minhas
...............medidas próprias
dezenas de sentenças
partem deste ponto

sevado o chá
................quenteseco

amansa
........o inquilino

Saturday, April 18, 2009

Meia Noite

Busco água no banheiro
Sirvo em porcelana

Que lugar ideal.

A privada é para refletir
Por isso, privado.

A análise é profunda
O olhar imanente
Brota no espelho a fronte.
Não tarda

“Beba, são pregos”

Preciso é cortar a unha
Fazer a barba
Escovar os dentes

Limpar a casa,
Ao menos uma vez
Limpar a casa.



(Não terminado, aberto a opinião)

Tuesday, April 07, 2009

Estetoscópio

Tão certo quanto outros
Esse dia corre manso
Nos sorrateiros bocejos
De entrelinhas que assoviam
Passos apressados

Em meio ao estribilho
O estalar de um ruído

O olhar em fuga
Faz a busca
Da linha quântica
Em que persisto

As paredes encolhem

O lúdico rompe em
Auscultação

Wednesday, April 01, 2009

Víscero

A poesia é cerne,
Carne exposta
De cheiro duvidoso.

Âmago amarrotado
Dum pobre coitado
Caído em pecado

São letras pescadas num vacilo,
Lágrimas ocultas em verso
Lampejam possíveis momentos.

Inexistência,
Saneamento mental
De passagem discreta
Em voz flagelada.

Imobilidade do imortal
Morto pouco a ponto
Em letras lacrimosas

Palpáveis

Falíveis.

Friday, March 27, 2009

Desperto

O pensamento habitado
Por aquilo que não deve ser (lembrado)
Revisado, nunca calado.
A esperança da criança
Que quebra o nariz
Vivendo aquilo que tanto quis
A vida tão rica se faz infeliz
Viva por um triz

Nesse sonho, desenho de giz
A poeira voa com o vento
E o tempo calado me diz
Não há sonho infeliz
Nem vida sem quebrar o nariz.

Wednesday, March 25, 2009

Estação passado

O passado de hoje
Na janela do amanha
Espera.

Friday, March 13, 2009

Poesia por nada


A poesia tem gosto de maracujina
Um leve rabisco no tempo
Uma saída no que há de não haver

Alça voo nesse dia triste
Nessa hora inútil
O tempo que queira

Estar lá.

As tantas horas que já passaram
As tantas flores que já calaram
A carne apodrecida que alimenta o pássaro negro

Alça voo, alça voo.

A verdade não há de haver
E ainda estou aqui
Sem milhos, nem pombos
Numa praça esquecida talvez
Onde o rabisco é tempo
E o tempo há de não haver.

Um rabisco de quebranto
Pois o dia triste é uma alegria
E a morte é um banquete
Que alimenta a angustia
Em igual força ou mais
Seja inútil ou flor
Há de voar em ramas
Há de estar lá.