Wednesday, November 25, 2009

Pulmones de Metal


em Cerro Rico
nas entranhas da terra
em total escuridão
a população
de vidas calejadas
cava seu próprio destino

escorrem veias de zinco
e o cobre dá cor ao desespero
tiram sangue de rochas
das pedras e mãos
dos artistas cegos
que esculpem até as vísceras
nos buracos
mais profundos

queimam marcas pelas paredes
marcas de fé

eles se denominam
Pulmones de Metal

o mais velho tem 42
quarenta e dois
anos
o mais experiente
o sobrevivente
da exploração

o mais novo não fala
racha rocha na
busca de brilho
com um martelo
maior que sua cabeça

no íntimo do ventre materno
um imponente Theo
figura com seus cornos
e um enorme pinto
maior que jesus
ali noutro canto

Ele proverá riquezas

o álcool, puro
proverá coragem

a misericordiosa coca
proverá força

17 níveis de exploração
464 anos de exploração
exploração exploração
exploração exploração
exploração exploração

a folha amarga
na saliva
seca
vira suor, sangue
correntes
explosões
na escuridão

na boca
só um dente
.............d’ouro
tamanha pobreza
...............d’alma

a coca continua sendo
o principal alimento
nas bocas vazias
ruminante

4 comments:

Carina said...

eu já tinha lido este, será?

me pareceu familiar, mas gosto mto...

mto bom ler poesia desvinculada da pessoalidade, de vez em qdo. Não que a pessoalidade seja ruim, mas é que todo mundo gosta de variar o tempero né!

Carina said...

aliás, ontem mesmo pensei no senhor e como nunca mais te esbarrei pelos corredores...

=)

Tulio Malaspina said...

já foi postado no maná e decidi trazer pra cá também.

pode ter certeza que a gente vai se trombar ahhahahaha o nosso mundo é pequeno pequeno!

Priscila Milanez said...

Costumam dizer que faço poesia em forma de prosa. Arriscaria dizer que fizeste uma prosa em forma de poesia. Mas pra que as definições, não é mesmo?
Uma denúncia poética.