Wednesday, October 29, 2008

Reflexão.

             Que inferno, esse espelho. Não posso ser eu mesmo na frente dele, ele me modifica, me desconstrói, me envergonha. Por vezes sinto o coração acelerar e junto a respiração. É excitante. Quando quero parar e não posso, é sufocante. Sou eu, apenas eu, ali refletido. Como posso temer tanto a mim mesmo? Como posso envergonhar-me assim diante de mim? No auge de minha subversão fito seriamente esse corpo nu, busco no fundo dos olhos negros algo; e em poucos minutos me entorpeço estranhamente. Hipnótico. Tudo se distorce, me deixo ali, abandonado de meus pensamentos. Nesse estranho momento não sou. Nesse estranho momento, estou. Reconheço o corpo ali parado, mas desconheço algo, algo que me controla os arrepios e deixa a desejar. Desejo. Eu te desejo. 

            - Eu? Eu quem?

            - Eu, você.

            - Eu? A quem?

            - A você.

            E continuo a fitar hipnótico, procurando ainda no fundo dos olhos gigantescos o autor. Perdido penso em parar a conversa. Não posso. Eu quero mais.

            - Mais quem?

            - Eu, todos eles.

5 comments:

Emely said...

Nossa que Busca incessante.

as vezes me privo do espelho, prefiro o sonho!

Emely said...
This comment has been removed by the author.
Victor Meira said...

DEMAIS, meu velho!
Belo conto, belo diálogo, belo questionamento. Isso é uma busca incessante de se expandir e fugir do cubo.

Texto bom, inteligente. Vai abrindo possibilidades, surpreende.

Ótimo, Tulio.
Tô gostando disso.

Que? said...

prefiro vc

Anonymous said...

o seu "eu" refletido é lírico.